Revoltas pela Independência do Brasil
As primeiras tentativas de independência, em terras brasileiras, aconteceram, ainda no final do século XVII, sendo as principais delas: a inconfidência mineira em 1789, e a inconfidência bahiana em 1798. Em ambos os casos, os planos foram delatados à coroa portuguesa, que conseguiu agir antes de colocados em prática. Em Minas Gerais, Tiradentes acabou enforcado e o mesmo aconteceu com quatro rebeldes no caso bahiano.
Inconfidência Mineira, Bahiana e Revolução Pernambucana
Os movimentos inconfidentes e a Revolução Pernambucana de 1817 tiveram semelhanças importantes:
- envolveu apenas uma parte da colônia
- possuíam caráter republicano, inspirada no sistema de governo dos EUA
- crítica às formações tradicionais de poder, que retirava a ligitimidade de poder sobre os súditos, e das metrópoles sobre às colônias
Causas da Revolução Pernambucana
O que havia de novo, naquele contexto, era o fato de que o governo não mais conseguia responder às diferentes demandas das diversas regiões e classes do território, num mundo que se transformava políticamente. Na Revolução Pernambucana, uma parte importante da elite desta capitania estava descontente com algumas medidas específicas tomadas pelo Rei Dom João VI, que havia se mudado para o Brasil em 1808, fugindo de Napoleão Bonaparte.
Em 1815, o Império Napoleônico acabou, findando a guerra na Europa. Todavia, a família real portuguesa não retornou a Portugal e começou a levantar questionamentos, pois parecia que iriam ficar de vez na “terrinha”. Uma dessas interrogações era quanto à validade do direito ao trono, que começava a ser discutido no Congresso de Viena, após o período napoleônico. Para driblar questionamento jurídicos a esse repeito, Dom João VI elevou o Brasil à condição de reino unido. Etretanto, tal atitude fez compatriotas questionarem-se ainda mais se Dom João iria mesmo voltar a Portugal ou não.
A sua volta acabou sendo decidida pela Corte Constituinte, formada pelos líderes da Revolta do Porto, um movimento de caráter republicano mas que almejava manter o Brasil como colônia portuguesa. Neste período Dom João VI vinha reconhecendo a importância das terras brasileiras e dando mais poder a ela, devido, principalmente, a estadia da família real portuguesa em território brasileiro. Algumas dessas concessões foram:
- abertura dos portos
- a nomeação de homens nascidos no Brasil para altos postos do Estado
- a criação de novas instituições, como academias militares e escolas de arte
Apesar dessas melhorias no, agora reino unido, incitarem questionamentos sobre as causas da Revolução Pernambucana, é sabido que as benfeitorias não eram tantas quanto necessário e que, geralmente, contemplavam, apenas grandes produtores da região centro-sul, que tinham maior influência na corte.
Revolta Pernambucana e o Aumento de impostos em Pernambuco
Devido ao enfraquecimento econômico de Portugal por causa da guerra de Napoleão e das pujantes gastanças ad corte, Dom João VI viu-se impelido a aumentar impostos. Como não queria contrariar a elite carioca, o peso desses recaiu mais sobre outros estados, dentes estes, pernambuco, que já estava insatisfeito com o governo centralizador e distante.
Esse imposto que recaiu sobre Pernambuco era uma taxa de 10% sobre o faturamento da produção de algodão, a principal mercadoria do estado naquela época. Outra taxa que causou desgosto foi a criada para manter a iluminação pública do Rio de Janeiro, pois do ponto de vista da elite pernambucana eram eles que estava pagando a conta da tranformação carioca numa corte.
O descontentamento da elite de pernambuco foi o principal motor da revolta pernambucana, mas essa não a fez sozinha, até porque não dava para enfrentar Portugal sem um exército, este composto por soldados, quase sempre, muito pobres, analfabetos e que tinham sido recrutados à força.
Soldados da Revolta Pernambucana
Apesar de muitos historiadores brasileiros apresentarem a Revolução Pernambucana como os bonzinhos frente a uma coroa portuguesa malévola, a elite de Pernambuco também não era composta por santos, pois os soldados que lutavam na revolta pernambucana sofriam com:
- falta de salários
- abusos e castigos físicos por parte dos superiores
- discriminação por cor, pois muitos eram negros ou pardos
Esses soldados, pobres e despreparados para a guerra, entraram na luta contra portugal seguindo ordens dos seus comandantes.
Início da Revolução Pernambucana
Tudo começou no início de março, quando o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro recebeu uma denúncia de que estavam ocorrendo reuniões da Maçonaria para tramar a derrubada de seu governo. Por via das dúvidas, ele mandou prender váriso suspeitos. No dia 6 de março, ao tentar cumprir as ordens do governador, o comandante português foi assassinado por seus subordinados, no Forte das Pontas, em recife. Dali, saiu uma multidão armada, que apresentou um ultimato para que o governador fosse embora de Pernambuco, caso contrário acabaria morto.
Vitória da Revolução Republicana
Caetano Pinto, vendo que os rebeldes não estavam para brincaedira, achou melhor zarpar para o Rio de Janeiro. Com a vitória representada pela fuga do governador, uma grande festa tomou as ruas de Recife. Nesses eventos, os militares arrancaram o brasão do rei de seus uniformes, simbolizando a quebra de subordinação em relação à monarquia portuguesa. No dia seguinte, um governo provisório foi estabelecido reunindo representantes de:
- proprietários rurais
- comerciantes
- militares
- clero
Com a formação do novo governo, os revolucionários passaram a publicar proclamações e decretos que definiam quais eram seus objetivos. Além disso, enviaram emissários a outras capitanias procurando apoio. São elas:
- Bahia
- Paraíba
- Ceará
- Rio Grande do Norte
- O atual estado de alagoas que, na época, era uma comarca na capitania de Pernambuco, também fez parte do movimento
Desse modo, o que começou em Recife ameaçava se alastrar por diversos territórios da região que hoje forma o nordeste brasileiro e, para o rei Dom João VI, que estava no Rio de Janeiro, a ameaça de um contágio revolucionário era muito grave, até porque, era nítido que os rebeldes tinham uma estratégia:
- para conseguir a adesão das tropas, decretaram o aumento do salário dos soldados
- para conquistar o apoio dos fazendeiros, publicaram um aviso garantindo que a escravidão não seria abolida naquele momento
- a emancipação ocorreria no futuro, de forma lenta e segura
- os rebeldes seguiam um caminho muito parecido com o dos EUA e, naquele momento, mantinham a ordem social escravista, lado a lado com as instituições liberais e republicanas
Inspirada no liberalismo político e no exemplo norte-americano, a Revolução Pernambucana decretou pela primeira vez, na história do Brasil:
- a liberdade de imprensa
- a liberdade de culto religioso
- igualdade entre pessoas livres, acabando com a diferença entre os homens nobres e plebeus, mas mantendo a diferença entre os homens livres e escravos
Por tudo isso, não é de se estranhar que a revolta pernambucana tenha recebido o apoio da diplomacia dos Estados Unidos, que via com bons olhos a criação de mais uma república no continente. também foi nos EUA que um dos rebeldes desembarcou dois meses depois do começo da revolução para comprar armas, contratar militares e negociar o apoio norte-americano à guerra contra Portugal.
O líder rebelde Antônio Gonçalves da Cruz, conhecido como Cabugá, tinha contatos por lá, graças à Maçonaria. Para se ter uma ideia da rede de relacionamento dos rebeldes pernambucanos, Cabugá chegou a contratar comandantes militares franceses que haviam servido à Napoleão Bonaparte e que estavam desempregados depois das derrotas de seu país, nas guerras napoleônicas, mas os oficiais franceses que ele contratou só chegaram a Pernambuco depois que a revolução já tinha sido controlada e acabaram presos pelas tropas portuguesas.
O fim da Revolução Pernambucana
A repressão que pôs fim a Revolução Pernambucana foi feita com tropas que marcharam por terra da Bahia até Recife e por embarcações que saíram do Rio de Janeiro e cercaram a cidade pelo mar. Além disso, houve prisões, execuções e deportações. A capitania de Pernambuco foi punida com a perda do território de Alagoas, que se tornou uma capitania autônoma. As tropas enviadas por Dom João VI entraram em Recife no dia 19 de maio de 1817, pondo um fim na primeira experiência republicana no Brasil.
Um fator que contribuiu para a derrocada da Revolução Republicana foi a mudança de time de uma parte dos fazendeiros de Pernambuco. A razão disso foi, justamente, o comportamento dos soldados forçados a guerrear, mitos dos quais escravos, que passaram a ter suas próprias motivações para participar destas e de outras revoluções, pois a experiência de pegar em armas em nome de ideais de liberdade e igualdade abriu possibilidades para que eles começassem a lutar por seus próprios interesses. Não, faltavam, por exemplo, relato de escravos que haviam lutado na guerra e não aceitavam mais serem tratados como inferiores, que diziam, em alto e bom tom, que logo se casariam com mulheres brancas, algo inaceitável naquela época.
Essa mudança de postura dos setores populares foi um resultado importante da revolução, que nem mesmo a repressão destruiu totalmente. Outro resultado importante foi o início de uma tradição revolucionária pernambucana, com forte teor federalista, que depois da independência passou a contestar a política centralizadora do império.
Mesmo tendo durado menos de três meses, a República Pernambucana deixou uma herança de rebeldia, que marcou para sempre a história política do Brasil.