Tema: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
TEXTO I
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários de um serviço de música digital recebem uma lista personalizada de músicas que lhes permite descobrir novidades. Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, este cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma máquina de sugestões que não costuma falhar.
O sistema se baseia em um algoritmo cuja evolução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de streaming de vídeo on-line começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando o banco de dados gerado por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz.
O algoritmo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis. Dessa forma, a filtragem de informação feita pelas redes sociais ou pelos sistemas de busca pode moldar nossa maneira de pensar. E esse é o problema principal, a ilusão de liberdade de escolha que muitas vezes é gerada pelos algoritmos.
VERDÚ, Daniel. O Gosto na era do algoritimo. Disponível em https://brasil.elpais.com/. Acesso em: 11 de jun. 2018 (adaptado).
TEXTO II
Nos sistemas dos gigantes da internet, a filtragem de dados é transferida para um exército de moderadores em empresas localizadas do Oriente Médio ao Sul da Ásia, que têm um papel no controle daquilo que deve ser eliminado da rede social, a partir de sinalizações dos usuários. Mas a informação é então processada por um algoritmo, que tem a decisão final.
Os algoritmos são literais. Em poucas palavras, são uma opinião embrulhada em código. E estamos caminhando para um estágio em que é a máquina decide qual notícia deve ou não ser lida.
PEPE ESCOBAR. A silenciosa ditadura do algoritmo. Disponível em https://outraspalavras.net/. Acesso em: 5 jun. 2017 (adaptado).
TEXTO III
Internet no Brasil em 2016. Disponível em https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 18 jun. 2018 (adaptado).
TEXTO IV
Mudanças sutis nas informações às quais somos expostos podem transformar nosso comportamento. A redes têm selecionado as notícias sob títulos chamativos como “trending topics” ou critérios como “relevância”. Mas nós praticamente não sabemos como isso tudo é filtrado. Quanto mais informações relevantes tivermos nas pontas dos dedos, melhor equipados estamos para tomar decisões. No entanto, surgem algumas tensões fundamentais: entre a conveniência e a deliberação; entre o que o usuário deseja e o que é melhor para ele; entre a transparência e o lado comercial.
Quanto mais os “sistemas” souberem sobre você em comparação ao que você sabe sobre eles, há mais riscos de suas escolhas se tornarem apenas uma série de reações a “cutucadas” invisíveis. O que está em jogo não é tanto a questão “homem X máquina”, mas sim a disputa “decisão informada X obediência influenciada”.
CHATFIELD, Tom. Como a internet influencia secretamente nossas escolhas. Disponível em https://www.bbc.com/. Acesso em: 13 jun. 2017 (adaptado).
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
O Facebook Ads é o sistema de publicidade automatizada da famosa rede social. Nele, é possível direcionar propagandas online quase imperceptíveis ao leigo mediante dados demográficos e comportamentais. Tal filtro tem tolhido o poder de escolha do consumidor, ignorante quanto ao destino dos dados providos de maneira inocente. Assim, cabe análise de causas, consequências e possível solução da problemática.
Como dizia Milton Friedman, importante pensador e economista liberal, não existe almoço grátis. Dessa maneira, faz-se necessário um modo de financiar a navegação gratuita, que encontrou no marketing digital um modelo de negócio ideal à viabilização do empreendimento. Entretanto, o controle das informações na rede por parte apenas das empresas, produz uma desiguladade injusta entre frabricantes e consumidores, que são iludidos por um falso poder de escolha.
Como resultado do desvirtuado arranjo entre oferta e demanda, instituições antes vistas como benevolentes, por propiciarem espantosa tecnologia comunicacional de forma gratuita, hoje são tratadas com desconfiança por parte da população, que assiste atônita a escândalos denunciadores do modo como ocorre a manipulação social na web. Essa incoerência necessita ser sanada o quanto antes para que a inovação representada pela internet não caia em descrédito absoluto.
Os empreendedores online, por conseguinte, devem procurar melhores maneiras de se manter o negócio ativo, como por meio de transações online com arrecadação financeira sobre porcentagens, o que seria menos invasivo à privacidade. Espera-se, assim, que a busca por conhecimentos questionáveis como viabilidade ao mundo virtual se reduza e os usuários sejam menos induzidos comportamentalmente por instituições duvidosas.
Google Ads é o sistema de publicidade online do famoso buscador, em que é possível definir para quem essa será veiculada. Os filtros que a ferramenta oferece são muito bons para definir propagandas relevantes ao usuário. Todavia, quando o usuário não sabe reconhecer a diferença entre conteúdo gratuito e pago, fica vulnerável à manipulação comportamental, o que merece análise das tratativas e possível solução da problemática.
Segundo Emile Durkhein, Fato Social representa uma força coercitiva do grupo sobre o cidadão, impelido a repetir o comprotamento da maioria. Dessa forma, os algorítimos publicitários atuais reforçam o fato potencializando comportamentos induzidos pelo controle de assuntos pessoais, que o indivíduo, infelizmente, nem sabe estarem disponíveis às empresas. Essa lógica é injusta e precisa ser revista.
Ademais, de acordo com os ideais de Adam Smith para se alcançar uma sociedade eficiente e eficaz, é preciso que haja uma concorrência transparente entre as empresas. Contudo, esse conceito não tem sido aplicado na modernidade, pois nem todas as instituições têm acesso às informações acerca do público-alvo, que, de maneira lamentável, também permanece ignorante sobre as o funcionamento da web.
Empreendedores digitais, por conseguinte, devem desenvolver uma rede social mais transparente, por meio de software livre, com um banco de dados descentralizado, para que haja competição entre os sites e consequente escolha dos cidadãos pela opção mais respeitosa quanto à liberdade. Espera-se, assim, que a manipulação no mundo virtual seja reduzida e o poder sobre o conteúdo na internet democratizado.
Facebook Ads é o sistema de publicidade online da famosa empresa. Se, por um lado, ele ajuda a tornar os anúncios mais relevantes mediante filtros, por outro, ele potencializa a manipulação de usuários que não sabem distinguir o conteúdo gratuito do pago. Dessa forma, o indivíduo tem a ilusão de escolha, quando, na verdade, foi induzido, sutilmente, à compra, o que merece análise das tratativas e possível solução da problemática.
Segundo Emile Durkhein, Fato Social representa a força coercitiva do grupo sobre o sujeito, compelido à uma ação, mesmo que inconscientemente. Sendo assim, esse comportamento natural é utilizado para maximizar o retorno das propagandas na internet, que são disponibilizadas como material didático aos incautos, que, infelizmente, o consomem ingenuamente e experimentam a ilusão de poder optar, que na realidade não aconteceu.
Ademais, de acordo com Adam Smith, para se alcançar uma sociedade eficiente e eficaz, é importante que se estabeleça a livre concorrência. Contudo, ao se monopolizar as informações dos que utilizam a rede mundial de computadores, as instituições que têm acesso privilegiado aos conteúdos pessoais se destacam injustamente, corroborando para uma situação lamentável na qual o cliente é lesado.
O Legislativo, por conseguinte, deve obrigar, mediante votação na câmara com respeito aos trâmites legais, a transparência do banco de dados relativo à cada cidadão, para que haja real conhecimento acerca do funcionamento publicitário relativo ao material produzido online. Espera-se, assim, que as disputas pela audiência no mundo virtual sejam pautadas pela competência e não mais pelo monopólio.